Acabei de ler E SE OBAMA FOSSE AFRICANO? E OUTRAS INTERINVENÇÕES.
E na página 199, Mia Couto conta um episódio por ele vivido, e por mim, também, em lugares diferentes e distantes, mas do mesmo continente.
E sua Mãe responde-lhe exactamente como a minha me respondeu.
Pág.199 e 206
Um dos meus momentos mais antigos é o seguinte: estou sentado, de braços estendidos, frente à minha mãe que vai enrolando um novelo de lã a partir de uma meada suspensa nos meus pulsos. Era eu menino, mas aquela tarefa era mais do que uma incumbência: eu estava dando corpo a um ritual antiquíssimo, como se houvesse antes de mim uma outra criança em cujos braços se enrolava o mesmo infinito fio de lã. Esta persistente lembrança, que eu saboreio como uma sombra eterna, é quase uma metáfora do trabalho da memória: um fio ténue, juntando-se a outros fios que se enroscam num redondo ventre.
...esse momento tão cheio de sossego tem outra versão. Se perguntarem à minha mãe ela dirá que aquilo era um inferno. É assim que ela me responde ainda hoje: “Tu não paravas quieto, queixavas-te que aquilo não era tarefa para um rapaz e eu tinha de te dar umas sapatadas para não ensarilharmos o novelo”.
Um dos meus momentos mais antigos é o seguinte: estou sentado, de braços estendidos, frente à minha mãe que vai enrolando um novelo de lã a partir de uma meada suspensa nos meus pulsos. Era eu menino, mas aquela tarefa era mais do que uma incumbência: eu estava dando corpo a um ritual antiquíssimo, como se houvesse antes de mim uma outra criança em cujos braços se enrolava o mesmo infinito fio de lã. Esta persistente lembrança, que eu saboreio como uma sombra eterna, é quase uma metáfora do trabalho da memória: um fio ténue, juntando-se a outros fios que se enroscam num redondo ventre.
...esse momento tão cheio de sossego tem outra versão. Se perguntarem à minha mãe ela dirá que aquilo era um inferno. É assim que ela me responde ainda hoje: “Tu não paravas quieto, queixavas-te que aquilo não era tarefa para um rapaz e eu tinha de te dar umas sapatadas para não ensarilharmos o novelo”.
1 comentário:
Também me lembro de ter o novelo enrolado nos meus pulsos, não me lembro do que me dizia a Mãe... :(
Acabei de ler "Jesusalém", aconselho!
Enviar um comentário