Baptista Bastos
A Europa é sempre dos mesmos
A Europa não possui dirigentes à altura das circunstâncias. A crise avassaladora, que atirou para o desemprego, para a miséria e para o desespero mais angustiante milhões e milhões de europeus, é uma bomba atómica social que...
A Europa não possui dirigentes à altura das circunstâncias. A crise avassaladora, que atirou para o desemprego, para a miséria e para o desespero mais angustiante milhões e milhões de europeus, é uma bomba atómica social que não demorará a eclodir. Ainda não há muito, o jornalista Jean Daniel, pouco propenso a alarmismos, advertia, em "Le Nouvel Observateur", para as latentes ameaças e dos perigos larvares pressentidos um pouco em todos os países.
Mas parece que os dirigentes demonstram uma indiferença tão leviana como aterradora.
Examinamos o sorriso tolo permanentemente exposto pelo apenas concebível Durão Barroso, ouvimos os discursos que pronuncia, e entendemos, imediatamente, o carácter frívolo, infantil e despreocupado de um homem politicamente sem alma, sem força e sem destino. O destino de Durão Barroso é, afinal, os ajustes à sua vidinha.
Aliás, "aquela" Europa, desconhecida pela esmagadora maioria dos europeus, está condenada a uma vacuidade. A fragmentação da União não é, somente, de características ideológicas. Trata-se de uma acentuada carência de convicções, não prevista pelos chamados "pais fundadores", que fundaram, feitas as contas, um saco de gatos - para não dizer um saco de escorpiões.
Nada sabemos uns dos outros. Olhamo-nos com desconfiança. E com um misto de inveja e de despeito em relação a países mais desenvolvidos. Mas a ignorância não é, exclusivamente, portuguesa. Creio, inclusive, que numerosos dirigentes europeus pouco ou nada conhecem das específicas realidades nacionais. Pensava-se que o problema dos pobres seria resolvido por uma Europa cheia de solidariedade, de atenções para com os mais débeis, de compaixão por todos os desfavorecidos. Mentira. A Europa que aí está favorece os mais ricos, os mais fortes e os mais poderosos, atirando, negligentemente, umas migalhas, e organizando-se para se defender de qualquer pretexto que não seja esse. A Europa Social é um mito, uma mentira, e uma aldrabice programada porque as classes mandantes sabiam muito bem o que estavam a fazer.
Foi-nos inculcada a ideia de que seríamos muito felizes, porque seríamos todos iguais. Nenhuma nação suplantaria as outras. As decisões seriam irmãmente tomadas, entre sorrisos e reverências amigáveis. Claro que só a exposição desta ideia mirífica era um absurdo. A União Europeia, no seu bojo, pretendia, unicamente e talvez exclusivamente, ser uma união económica, comandada pelos países mais desenvolvidos. Os Estados Unidos nem sequer se perturbaram, eles, em princípio os mais directamente ameaçados por essa hipotética hegemonia. Baralharam, deram as cartas, o sistema ficou na mesma. Não é bem assim. Ficou melhor para os mais ricos.
As desigualdades entre as nações não têm sido seriamente discutidas por ser um assunto desinteressante para o eixo económico que, realmente, manda, decide e resolve. O Parlamento Europeu serve para quê? É a reprodução dos parlamentos conhecidos. Há maiorias e minorias. Estas estarão sempre sob o jugo das primeiras. Lê-se o que por aí se edita nos jornais e aquilo é uma trapalhada dos diabos. Os chamados "especialistas" na Europa suscitam o sorriso melancólico de quem, somente, os tolera. Aquela senhora do "Público", que preopina, entrevista, comenta, cronica sobre os mais desvairados problemas "europeus" é supinamente ridícula e não dá por isso. A soberba com que ergue as sobrancelhas assusta quem, ocasionalmente, a ouve nas televisões. Não lhe cito o nome por piedade. E escreve pastelões de péssimo português, com a espessa arrogância dos que ocultam o desconhecimento com uma falsa cultura. Indico-a porque é o paradigma do mau gosto, da pesporrência e do possidonismo. É evidente que, mais tarde ou mais cedo, as coisas adquirirão a normalidade exigível e recomendável.
A campanha para as "europeias" não é somente sorna: é uma desonestidade. Destina-se a quê? A favorecer a vidinha de algumas pessoas (há as excepções da regra, mas são escassas e más) que precisavam de mais uns dinheiros de renda e de mudar de ares. Há anos, o incomparável António José Seguro, declarou, ao pesado e intragável "Expresso", estar cansadíssimo da política, mas perfeitamente aberto a ir para a Europa. E foi, com o emblema do PS na lapela. Este episódio tratei-o, e trato-o, cada vez que de ele me recordo. Porque o acho escabroso, ominoso e indigno. Sendo um partido do "arco do poder", o PS tem empregos à fartazana. O PSD está-lhe na peugada. Portas-te bem, vais para a Europa. Portas-te mal estás tramado. Não estou a cometer nenhuma mentira. Basta olhar em derredor, reparar nos candidatos a eurodeputados - e o vómito assaltará, necessariamente, as pessoas de bem. Tudo isto é triste, pequenininho e grotesco, mas é assim.
APOSTILA - Por duas ou três vezes assisti a um programa chamado "Cara a Cara" [TVI-24 horas]. Primeiro, porque Henrique Mendes e eu fomos os protagonistas de um outro, com o mesmo nome, exibido pela SIC-Notícias. Segundo, porque desejava ver as diferenças entre ambos. Fi-lo com a melhor das intenções e peito aberto. Logo no primeiro número, a coisa pareceu-me mais arruaça de feira do que civilizado diálogo entre dois proeminentes. Um dos proeminentes, o dr. Morais Sarmento, não tem jeito nenhum para aquilo. Perde a cabeça, é grosseiro e chega a ser insultuoso, quando não tem argumentos e a irracionalidade o assalta, o que, assustadoramente, é-lhe usual. Não chega à altura, nem tem o coturno cultural, político e intelectual do seu opositor, o dr. Augusto Santos Silva. Este, expõe um sorriso malicioso, nunca se exalta, reduz as declarações do dr. Morais a subnitrato, armadilha-o com desenvolta argúcia e procede a uma crudelíssima chacina mental. O espectáculo é deprimente para o dr. Morais. E um divertimento para os telespectadores que adoram chicana.
A Europa não possui dirigentes à altura das circunstâncias. A crise avassaladora, que atirou para o desemprego, para a miséria e para o desespero mais angustiante milhões e milhões de europeus, é uma bomba atómica social que não demorará a eclodir. Ainda não há muito, o jornalista Jean Daniel, pouco propenso a alarmismos, advertia, em "Le Nouvel Observateur", para as latentes ameaças e dos perigos larvares pressentidos um pouco em todos os países.
Mas parece que os dirigentes demonstram uma indiferença tão leviana como aterradora.
Examinamos o sorriso tolo permanentemente exposto pelo apenas concebível Durão Barroso, ouvimos os discursos que pronuncia, e entendemos, imediatamente, o carácter frívolo, infantil e despreocupado de um homem politicamente sem alma, sem força e sem destino. O destino de Durão Barroso é, afinal, os ajustes à sua vidinha.
Aliás, "aquela" Europa, desconhecida pela esmagadora maioria dos europeus, está condenada a uma vacuidade. A fragmentação da União não é, somente, de características ideológicas. Trata-se de uma acentuada carência de convicções, não prevista pelos chamados "pais fundadores", que fundaram, feitas as contas, um saco de gatos - para não dizer um saco de escorpiões.
Nada sabemos uns dos outros. Olhamo-nos com desconfiança. E com um misto de inveja e de despeito em relação a países mais desenvolvidos. Mas a ignorância não é, exclusivamente, portuguesa. Creio, inclusive, que numerosos dirigentes europeus pouco ou nada conhecem das específicas realidades nacionais. Pensava-se que o problema dos pobres seria resolvido por uma Europa cheia de solidariedade, de atenções para com os mais débeis, de compaixão por todos os desfavorecidos. Mentira. A Europa que aí está favorece os mais ricos, os mais fortes e os mais poderosos, atirando, negligentemente, umas migalhas, e organizando-se para se defender de qualquer pretexto que não seja esse. A Europa Social é um mito, uma mentira, e uma aldrabice programada porque as classes mandantes sabiam muito bem o que estavam a fazer.
Foi-nos inculcada a ideia de que seríamos muito felizes, porque seríamos todos iguais. Nenhuma nação suplantaria as outras. As decisões seriam irmãmente tomadas, entre sorrisos e reverências amigáveis. Claro que só a exposição desta ideia mirífica era um absurdo. A União Europeia, no seu bojo, pretendia, unicamente e talvez exclusivamente, ser uma união económica, comandada pelos países mais desenvolvidos. Os Estados Unidos nem sequer se perturbaram, eles, em princípio os mais directamente ameaçados por essa hipotética hegemonia. Baralharam, deram as cartas, o sistema ficou na mesma. Não é bem assim. Ficou melhor para os mais ricos.
As desigualdades entre as nações não têm sido seriamente discutidas por ser um assunto desinteressante para o eixo económico que, realmente, manda, decide e resolve. O Parlamento Europeu serve para quê? É a reprodução dos parlamentos conhecidos. Há maiorias e minorias. Estas estarão sempre sob o jugo das primeiras. Lê-se o que por aí se edita nos jornais e aquilo é uma trapalhada dos diabos. Os chamados "especialistas" na Europa suscitam o sorriso melancólico de quem, somente, os tolera. Aquela senhora do "Público", que preopina, entrevista, comenta, cronica sobre os mais desvairados problemas "europeus" é supinamente ridícula e não dá por isso. A soberba com que ergue as sobrancelhas assusta quem, ocasionalmente, a ouve nas televisões. Não lhe cito o nome por piedade. E escreve pastelões de péssimo português, com a espessa arrogância dos que ocultam o desconhecimento com uma falsa cultura. Indico-a porque é o paradigma do mau gosto, da pesporrência e do possidonismo. É evidente que, mais tarde ou mais cedo, as coisas adquirirão a normalidade exigível e recomendável.
A campanha para as "europeias" não é somente sorna: é uma desonestidade. Destina-se a quê? A favorecer a vidinha de algumas pessoas (há as excepções da regra, mas são escassas e más) que precisavam de mais uns dinheiros de renda e de mudar de ares. Há anos, o incomparável António José Seguro, declarou, ao pesado e intragável "Expresso", estar cansadíssimo da política, mas perfeitamente aberto a ir para a Europa. E foi, com o emblema do PS na lapela. Este episódio tratei-o, e trato-o, cada vez que de ele me recordo. Porque o acho escabroso, ominoso e indigno. Sendo um partido do "arco do poder", o PS tem empregos à fartazana. O PSD está-lhe na peugada. Portas-te bem, vais para a Europa. Portas-te mal estás tramado. Não estou a cometer nenhuma mentira. Basta olhar em derredor, reparar nos candidatos a eurodeputados - e o vómito assaltará, necessariamente, as pessoas de bem. Tudo isto é triste, pequenininho e grotesco, mas é assim.
APOSTILA - Por duas ou três vezes assisti a um programa chamado "Cara a Cara" [TVI-24 horas]. Primeiro, porque Henrique Mendes e eu fomos os protagonistas de um outro, com o mesmo nome, exibido pela SIC-Notícias. Segundo, porque desejava ver as diferenças entre ambos. Fi-lo com a melhor das intenções e peito aberto. Logo no primeiro número, a coisa pareceu-me mais arruaça de feira do que civilizado diálogo entre dois proeminentes. Um dos proeminentes, o dr. Morais Sarmento, não tem jeito nenhum para aquilo. Perde a cabeça, é grosseiro e chega a ser insultuoso, quando não tem argumentos e a irracionalidade o assalta, o que, assustadoramente, é-lhe usual. Não chega à altura, nem tem o coturno cultural, político e intelectual do seu opositor, o dr. Augusto Santos Silva. Este, expõe um sorriso malicioso, nunca se exalta, reduz as declarações do dr. Morais a subnitrato, armadilha-o com desenvolta argúcia e procede a uma crudelíssima chacina mental. O espectáculo é deprimente para o dr. Morais. E um divertimento para os telespectadores que adoram chicana.
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