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quarta-feira, 3 de julho de 2013

R ou o poema possível

Amigo meu enviou-me:

"Há 30 anos, neste dia, e por esta hora, era pai, e era o homem mais feliz do mundo. Queria partilha convosco este momento."
R ou o poema possível

Olho o deslumbramento e comovo-me

sem temor e sem alvoroço.

Detenho-me na precisão anárquica do que me rodeia

sem que nada de grandioso ou novo aconteça

a não ser a tua evidencia de círio aceso no escuro de mim

a ferir-me com o espanto de uma dor luminescente

aguda, preciosa, certeira, que me acorda para

a singularidade do instante em que o olhar se perde em ti.

O teu retrato, meu filho, o teu retrato é imenso,

ali no sossego de um canto, teu sacrário de silencio

a ocupar o meu mundo com a soberana razão da poesia,

tua quietude a zelar pela minha solidão desamparada,

essa fidelidade guerreira em altivo repouso de braços,

teu sorriso raro que é canto e lavra onde me demoro,

e no teu rosto um olhar cuja beleza permanece sem nome.

Que tudo isto seja apenas sobressalto de luz cintilante

nos meus olhos, ou o poema possível do poema maior

que ainda não te sei escrever, pouco importa.

A mim, basta-me que seja esta coisa sem importância,

este pecado sem culpa, que é ser pai, e ser feliz por isso.



Alex

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