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sexta-feira, 25 de abril de 2014

Poema "Abril" - a José Alves Costa, um cabo e tanto - por Alex

E naquele dia claro e anónimo como nenhum outro

o mundo acordou e veio ao nosso encontro.

Naquele dia, não abrimos fogo uns sobre os outros,

porque era o desejado dia de todos os encontros.

Houve quem quisesse que as balas falassem,

mas quisemos que as armas se calassem.

Entre os que, anonimamente, ao medo desobedeciam,

outros havia que, voluntariamente, sorrindo, agiam

para a construção do dia claro, esse que diziam

ter vindo de longe, por ser tanto o que nos unia:

a vontade de viver, o cansaço de morrer e a alegria.

Há um que grita uma e outra vez: ‘Mata!’, ‘Atira!’, ‘Dispara!’…

Outro lhe responde num refrão exausto: ‘Não!’, ‘Basta!’, ‘Pára!’

E chegamos até este dia, até esta praça, até esta ampla arena

na  voz acordada de uma canção esquecida, Grândola Vila Morena

tão anónima como aqueles tantos que empunharam o canto,

e de tão poucos fomos imensos, soldados, capitães e um cabo e tanto,

empurrando a noite longa até às portas de uma nova madrugada

em que floriram cravos nas armas e no rosto da rapaziada.

Por um dia, por uma vez, a liberdade livre teve cor e cheiro,

e os sonhos tiveram, em plena rua, sua comovida festa por inteiro.


ALEX

Ao cabo apontador José Alves Costa, que na manhã de 25 de Abril de 1974 se recusou a disparar sobre a coluna de Salgueiro Maia.
O poema nasceu desta história.

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