Já foram "terras do fim do mundo" no tempo colonial, mas são, agora, e cada vez mais, as terras do futuro, terras das mais belas de Angola, encostadas no país às províncias do Moxico, Huíla e Cunene e fazendo fronteira com Zâmbia e Namíbia. É esse Cuando-Cubango das chanas, das florestas e dos rios, paraíso de animais, campo de tantas batalhas, uma das mais minadas regiões do mundo, que vai entrar num dos mais sedutores espaços transfronteiriços do mundo, o Kaza Park, conjunto de territórios e belezas de Angola, Zâmbia, Namíbia, Botswana e Zimbabwe.Kaza quer dizer Kavango-Zambezi, ou Cubango-Zambeze, dois importantes rios africanos, o primeiro nascido em Tchicala-Tchiloango, no planalto central angolano, e que, transformado já em Okavango, segue rumo ao seu fascinante destino nas areias do Calaári, o segundo com nascimento na Zâmbia e morte no Índico, em Moçambique. O projecto, assim identificado pelas duas míticas linhas de água, toca cinco países e reúne alguns dos mais importantes pontos turísticos de África, com a particularidade de prever a existência de um visto global, que permite viajar por qualquer parte no interior deste gigantesco parque transfronteiriço. No Cuando-Cubango, feita a limpeza das minas semeadas pela guerra, prevê-se o nascimento de hotéis, estruturas de apoio a safaris, centros de pesca e de caça, acampamentos, restaurantes, lojas de artesanato, com recuperação dos aeroportos da região e reparação das estradas. O processo está em marcha e aberto a um investimento internacional que se deixe aliciar pela projecção deste enorme e diversificado espaço turístico, em cujo interior se localizam algumas das maravilhas do planeta - as quedas de Vitória (Zimbabwe), o delta do Okavango (Botswana), a namibiana faixa do Caprivi, o Parque Chobe (Zâmbia) e as chanas do Cuando-Cubango, com a sua intensa vida animal e os mil sítios que convocam todas as memórias, incluindo as mais recentes, as do brutal tempo de guerra, no espaço histórico do Cuíto-Canavale. O Cuando-Cubango, segunda maior província de Angola, foi, outrora, um marcante espaço de caça, sendo famosas as reservas de Luiana, Mavinga e Mucusso. Mais recentemente, foi um duro campo de batalha, região da Jamba da Unita e desse Cuíto-Canavale da mais importante batalha terrestre depois da Segunda Guerra Mundial.Esta região de Angola pode ser, agora, um poderoso pólo de desenvolvimento do país, com o previsto investimento na criação de condições de atracção do grande segmento do turismo virado para a natureza, com sedutores percursos turísticos, alguns de novo já trilhados por quem, após a guerra, se apressou a redescobrir Angola.Da capital da Huíla, Lubango, abre-se a fascinante viagem por Matala, Cuvango, Cuchi, Menongue, Cuíto-Canavale, Mavinga, Rivungo e Luiana. Do planalto central, desce-se para Menongue pelo Chitembo. Do Cunene, a rota pode ser ascendente, de Ondjiva para o Caiundo, ou na direcção de Savate, outro palco de combates na guerra contra a África do Sul, ou lateralmente, acompanhando a zona fronteiriça com a Namíbia, por Cuangar, Calai e Dirico, rumo a Luiana, podendo, depois, subir no mapa, mergulhando em Angola. Ou, já agora, indo para o lado oposto, em direcção à foz do Cunene, outro dos mágicos espaços de Angola...
In Diário de Notícias - 26.10.2008 - David Borges
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