António Jacinto, cujo nome completo é António Jacinto do Amaral
Martins, nasceu em Luanda em 1924 e faleceu em 1991. Orlando Távora é o
pseudónimo utilizado por António Jacinto como contista.
Por razões políticas esteve preso entre 1960 e 1972. Militante
do MPLA, foi co-fundador da União de Escritores Angolanos, membro do Movimento
de Novos Intelectuais de Angola e participou activamente na vida política e
cultural angolana. Foi empregado de escritório e técnico de contabilidade,
Ministro da Educação de Angola e Secretário de Estado da Cultura.
Monangamba
Naquela
roça grande não tem chuva
é o
suor do meu rosto que rega as plantações:
Naquela
roca grande tem café maduro
e aquele
vermelho-cereja
são
gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado
pisado,
torturado,
vai
ficar negro, negro da cor do contratado.
Negro
da cor do contratado!
Perguntem
às aves que cantam,
aos
regatos de alegre serpentear
e ao
vento forte do sertão:
Quem
se levanta cedo? quem vai à tonga?
Quem
traz pela estrada longa
a
tipóia ou o cacho de dendém?
Quem
capina e em paga recebe desdém
fuba
podre, peixe podre,
panos
ruins, cinqüenta angolares
"porrada
se refilares"?
Quem?
Quem
faz o milho crescer
e os
laranjais florescer
-
Quem?
Quem
dá dinheiro para o patrão comprar
maquinas,
carros, senhoras
e
cabeças de pretos para os motores?
Quem
faz o branco prosperar,
ter
barriga grande - ter dinheiro?
-
Quem?
E as aves
que cantam,
os
regatos de alegre serpentear
e o
vento forte do sertão
responderão:
- "Monangambééé..."
Ah!
Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me
beber maruvo, maruvo
e
esquecer diluído nas minhas bebedeiras
- "Monangambééé..."
Sem comentários:
Enviar um comentário